Primavera

Primavera
Primavera de Botticelli (imagem da Google)

ADÁGIO


Tão curta a vida e tão comprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.

Miguel Torga































sexta-feira, 20 de abril de 2018

sábado, 14 de abril de 2018

sábado, 15 de março de 2014

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

                                              Vinicius de Moraes

domingo, 19 de janeiro de 2014

Poema da minha alienação

Demoro-me no outro lado de mim
porque me atrai
esse ser impossível
que sou
esse ser que me nega
para que seja ainda eu
Porque desejo esse alguém
que me invade e me ocupa
que me usurpou a palavra e o gesto
me fez estrangeiro do meu corpo
e me deixou mudo, contemplando-me.
Lanço-me na procura da minha pedra
no infindável trabalho
de me reconstruir
recolhendo os sinais do meu desaparecimento
percorrendo o revés da viagem
para regressar a um lugar inabitável.
Todas as vezes que me venci
não me separei do meu sonho derrotado
e, assim, me fiz nuvem
reparti-me em infinitas gotas
para que fosse bebido, vertido, transpirado
e voltasse de novo a ser céu
transparência de azul, harmonia perfeita
e poder regressar ao lugar interior
para me deitar, de novo,
no sangue que me iniciou.


                                                    Mia Couto

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ondjaki , um escritor multifacetado


Com vários títulos publicados nas áreas de poesia, conto, novela, romance e teatro, o escritor angolano co-assinou também, em 2006, o documentário "Oxalá cresçam pitangas".
O escritor Ondjaki recebeu hoje o Prémio José Saramago pelo romance "Os transparentes", no mesmo dia em que é publicado o seu novo livro, "Uma escuridão bonita", com ilustrações de António Jorge Gonçalves.
O Prémio José Saramago é o segundo galardão que o escritor angolano recebe este ano, depois do Prémio Fundação Nacional do Livro Infantil, pela obra de ficção juvenil "A bicicleta que tinha bigodes", que lhe tinha já valido o Prémio Bissaya Barreto, no ano passado.
Ondjaki, pseudónimo literário de Ndalu de Almeida, é um termo da língua umbundu que significa "guerreiro". O autor estreou-se literariamente em 2000 com o livro de poesia "actu sanguíneu", que lhe valeu uma menção honrosa do Prémio António Jacinto, nesse mesmo ano.
Nascido em Luanda há 36 anos, Ondjaki tem publicados vários títulos nas áreas de poesia, conto, novela, romance e teatro, e assinou, em 2006, com Kiluanji Liberdade, o documentário "Oxalá cresçam pitangas".
O escritor junta o Prémio Saramago a outros galardões já recebidos, nomeadamente o Prémio António Paulouro, em 2005, pelo livro de contos "E se amanhã o medo", o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores, pela obra "Os da minha rua", em 2007, o Grinzane for Africa- young writer, o brasileiro Jabuti, na categoria juvenil, pela obra "AvóDezanove e o segredo do soviético", em 2010, e ainda o angolano Caxinde do Conto Infantil, pelo título "Ombela, a estórias das chuvas", em 2011.
Ondjaki é autor de 19 títulos, incluindo o publicado hoje pela Editorial Caminho, e, entre eles, refira-se "Bom Dia Camaradas", "O Assobiador", "Há Prendisajens com o Xão", "Quantas madrugadas tem a noite", "Materiais para confecção de um espanador de tristezas", "Os vivos, o morto e o peixe-frito", "O voo do Golfinho", e "Uma escuridão bonita".
As obras do escritor angolano estão traduzidas em francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sério, polaco e sueco.






Ondjaki vence Prémio José Saramago


   Com o romance "Os transparentes" o escritor angolano vence a 8ª edição do prémio, que distingue autores com obra editada em língua portuguesa.
Lusa 12:34 Terça feira, 5 de novembro de 2013

   O escritor angolano Ondjaki, de 36 anos, com o romance "Os transparentes", é o vencedor do Prémio José Saramago 2013, no valor de 25.000 euros. A distinção foi anunciada hoje, no mesmo dia em que é publicado o seu novo livro, "Uma escuridão bonita", com ilustrações de António Jorge Gonçalves. É também o segundo galardão que o escritor recebe este ano, depois do Prémio Fundação Nacional do Livro Infantil.
   Esta é a oitava edição do galardão, instituído pela Fundação Círculo de Leitores, que distingue autores com obra editada em língua portuguesa, no último biénio, menores de 35 anos à data de publicação da obra.
   O júri, presidido por Guilhermina Gomes, do Círculo de Leitores, foi constituído pela poetisa Ana Paula Tavares, Manuel Frias Martins, da Universidade de Lisboa, Maria de Santa Cruz, da Universidade de Aveiro, Nazaré Gomes dos Santos, da Universidade Autónoma de Lisboa, pelos escritores Nélida Piñon e Vasco da Graça Moura e por Pilar del Río, presidente da Fundação José Saramago.
   A obra "Os transparentes" foi publicada em 2012 pela Editorial Caminho e, segundo Vasco Graça Moura, surpreende pela "maneira como a sua utilização da língua portuguesa é, não só capaz de captar com a maior naturalidade as mais diversas situações num contexto social tão diferente do nosso, mas comporta em si mesma fermentos de uma inovação que espelha com força e realismo um quotidiano vivido na sua trepidação e também funciona eficazmente ao restituí-lo no plano literário".
   A presidente da Fundação Saramago afirma, por seu turno, que "ao lermos 'Os transparentes' temos a sensação de estar a ler uma literatura inaugural".
"Sabemos que não é assim, que Angola tem grandes escritores e que muitos fazem do português em África um idioma sólido, versátil e belo, e que também Ondjaki faz parte de uma poderosa constelação", salienta Pilar del Río.
   Segundo a sinopse da obra, publicada pela Caminho, no romance, "de novo aparece Luanda - a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do 'progresso', dos grandes negócios, do 'desenrasca' - como pano de fundo de uma história que é um prodígio da imaginação e um retrato social de uma riqueza surpreendente".
   Paulo José Miranda, Adriana Lisboa, José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, João Tordo e Andréa del Fuego foram os nomes premiados com este galardão nas edições anteriores.

sábado, 9 de novembro de 2013

Caravelas

Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar-Morto,
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram.

Caravelas doiradas a bailar...
Ai, quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

- Florbela Espanca, in O livro de Sóror Saudade (1923).

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A canção da vida 

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

                       Mário Quintana, Esconderijos do Tempo, 1980.