Primavera

Primavera
Primavera de Botticelli (imagem da Google)

ADÁGIO


Tão curta a vida e tão comprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.

Miguel Torga































domingo, 28 de fevereiro de 2010

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Yann Tiersen

Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain

Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain

Fala

Fala a sério e fala no gozo

Fá-la pela calada e fala claro

Fala deveras saboroso

Fala barato e fala caro

Fala ao ouvido fala ao coração

Falinhas mansas ou palavrão

Fala à miúda mas fá-la bem

Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Fala francês fala béu-béu

Fala fininho e fala grosso

Desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar

Fala com elegância - muito e devagar.


Alexandre O'Neill

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Exílio de "estrangeiros" na Inglaterra

Exílio de "estrangeiros" na Inglaterra

Exílio de "estrangeiros" na Inglaterra


Mónica Ali

O Exílio galego

Bem sei que non hai nada
Novo en baixo do ceo,
Que antes outros pensaron
As cousas que ora eu penso.


E bem, ¿para que escribo?
E bem, porque así semos,
Relox que repetimos
Eternamente o mesmo.


III


Tal como as nubes
Que impele o vento,
I agora asombran, i agora alegran
Os espazos inmensos do ceo,
Así as ideas
Loucas que eu teño,
As imaxes de múltiples formas,
De estranas feituras, de cores incertos,
Agora asombran,
Agora acraran
O fondo sin fondo do meu pensamento.

Rosalia de Castro

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O primeiro filme do Ciclo

Outra voz... outra era...

Gaivota

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill

Fado de Amália

Fado de Amália

A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos


Mário Cesariny, in "Pena Capital"

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Les Roses


As Rosas

Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;

Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
Da ilusão.

Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.

Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese à beleza,
Pereceis;
Mas, não... Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.

Machado de Assis, in 'Crisálidas'

sábado, 20 de fevereiro de 2010

António Cruz




Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Debussy for Denmark

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cantar do Amigo Perfeito

Passado o mar, passado o mundo, em longes praias,
de areia e ténues vagas, como esta
em que haverá de nossos passos a memória
embora soterrada pela areia nova,
e em que sobre as muralhas quanta sombra
na pedra carcomida guarda que passámos,
em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
ainda recordas esta, ó meu amigo?

Aqui passeámos tanta vez, por entre os corpos
da alheia juventude, impudica ou severa,
esplêndida ou sem graça, à venda ou pronta a dar-se,
ido na brisa o sol às mais sombrias curvas;
e o meu e o teu olhar guiando-se leais,
de nós um para o outro conquistando
- em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
ainda recordas, diz, ó meu amigo?

Também aqui relembro as ruas tenebrosas,
de vulto em vulto percorridas, lado a lado,
numa nudez sem espírito, confiança
tranquila e áspera, animal e tácita,
já menos que amizade, mas diversa
da suspeição do amor, tão cauta e delicada
- em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
ainda as recordas, diz, ó meu amigo?

Também aqui, sorrindo em branda mágoa,
desfiámos, sem palavras castamente cruas,
não já sequer os íntimos segredos
que o próprio amor, porque ama, não confessa,
nem a vaidade humana dos sentidos, mas
subtis fraquezas vis, ingénuas e secretas
- em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
ainda recordas, diz, ó meu amigo?

Partiste e foi contigo a juventude.
Ficou o silêncio adulto, pensativo e pródigo,
e o terror de não ser minha estátua jacente
sobre o túmulo frio onde as cinzas da infância
desmentem - palpitar de traiçoeira fénix! -
que só do amor ou só da terra haja saudade.
Em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
tu sabes que a levaste, ó meu amigo?


Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'

Sting for Denmark

Sting for Denmark

Sting for Denmark

Sting for Denmark

Sting for Denmark

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Jazz Piano

Lua Jovem

Lua jovem
Lua jovem salvé salvé
Que das trevas te soltaste
E o que eu sou ó lua jovem
A mim próprio revelaste

Da noite de que saí
Nenhuma lembrança guardo
À luz venho e logo existo
E avanço em meu passo tardo

Até que pleno eu esplenda
Ilumine céu e terra
Pronto de novo ao nocturno
Que da vida nos desterra

Decerto um dia retorno
Decerto volto a brilhar
E poderei lua jovem
Ou te ver ou te sonhar


Agostinho da Silva

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Vai o poeta, fica o Poeta!

Rosa Lobato Faria



http://aeiou.expresso.pt/morreu-aos-77-anos-a-escritora-rosa-lobato-de-faria=f561497
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.


Rosa Lobato Faria

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Duas grandes vozes

Carnaval de Nice - Bataille de Fleurs

Carnaval de Nice

História do Carnaval

"Carnaval": o adeus à carne...


Dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demónios da má colheita. As origens do Carnaval têm sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade, tais como as Festas Egípcias que homenageavam a deusa Isis e ao Touro Apis. Os gregos festejavam com grandiosidade nas Festas Lupercais e Saturnais a celebração da volta da primavera, que simbolizava o Renascer da Natureza. Mas num ponto todos concordavam, as grandes festas como o carnaval estão associadas a fenómenos astronómicos e a ciclos naturais. O Carnaval se caracteriza por festas, divertimentos públicos, bailes de máscaras e manifestações folclóricas. Na Europa, os mais famosos carnavais foram ou são os de Paris, Veneza, Munique e Roma, seguidos de Nápoles, Florença e Nice.

Conceito e origem

O Carnaval é um conjunto de festividades populares que ocorrem em diversos países e regiões católicas nos dias que antecedem o início da Quaresma, principalmente do domingo da Quinquagésima à chamada terça-feira gorda. Embora centrado no disfarce, na música, na dança e em gestos, a folia apresenta características distintas nas cidades em que se popularizou.
O termo "Carnaval" é de origem incerta, embora seja encontrado já no latim medieval, como carnem levare ou carnelevarium, palavra dos séculos XI e XII, que significava a véspera da quarta-feira de cinzas, isto é, a hora em que começava a abstinência da carne durante os quarenta dias nos quais, no passado, os católicos eram proibidos pela Igreja de comer carne.

A própria origem do Carnaval é obscura. É possível que suas raízes se encontrem num festival religioso primitivo, pagão, que homenageava o início do Ano Novo e o ressurgimento da natureza, mas há quem diga que suas primeiras manifestações ocorreram na Roma dos césares, ligadas às famosas saturnálias, de carácter orgíaco. Contudo, o rei Momo é uma das formas de Dionísio — o deus Baco, patrono do vinho e do seu cultivo, e isto faz recuar a origem do Carnaval para a Grécia arcaica, para os festejos que honravam a colheita. Sempre uma forma de comemorar, com muita alegria e desenvoltura, os actos de alimentar-se e beber, elementos indispensáveis à vida.


Período de duração

Os dias exactos do início e fim da estação carnavalesca variam de acordo com as tradições nacionais e locais, e têm-se alterado no tempo. Assim, em Munique e na Baviera (Alemanha), ela começa na festa da Epifania, 6 de Janeiro (dia dos Reis Magos), enquanto em Colónia e na Renânia, também na Alemanha, o Carnaval começa às 11h11min do dia 11 de Novembro (undécimo mês do ano). Na França, a celebração se restringe à terça-feira gorda e à mi-carême, quinta-feira da terceira semana da Quaresma. Nos Estados Unidos, festeja-se o Carnaval principalmente de 6 de Janeiro à terça-feira gorda (mardi-gras em francês, idioma dos primeiros colonizadores de Nova Orleans, na Louisiana), enquanto na Espanha a quarta-feira de cinzas se inclui no período momesco, como lembrança de uma fase em que esse dia não fazia parte da Quaresma. No Brasil, até à década de 1940, sobretudo no Rio de Janeiro, as festas pré-carnavalescas se iniciavam em Outubro, na comemoração de N. Sra. da Penha, crescia durante a passagem de ano e atingia o auge nos quatro dias anteriores às Cinzas — sábado, domingo, segunda e terça-feira gorda. Hoje em dia, tanto em Recife (Pernambuco), quanto em Salvador (Baia), o Carnaval inclui a quarta-feira de cinzas e dias subsequentes, chegando, por vezes, a incluir o sábado de Aleluia.

grupobeloule.wikispaces.com/file/view/História+do+Carnaval.doc

Carnaval de Veneza


Lianor - canção

Todo o céu era silêncio
Só uma nesga de lua
Linda menina onde é a tua casa
Linda menina onde é a tua rua

Talvez gata abandonada
Por haver férias de Agosto
Que só se encolhe de fome
Que só mia de desgosto

Da menina só a rua
Triste menina sem casa
E ouvi a voz que dizia
Anjos vos escondendo asa

Então peguei na gatinha
E a levei à minha rua
E a subi a minha casa
E a deitei à luz da lua

Será que ela não o sabe
Será que ela não tem alma
Mas donde então esta paz
Aura clara pura e calma


Enamorados vivemos
Eu sou dela ela de mim
Vida que teve princípio
Mas talvez não tenha fim

Se fosse eu a viver só
Se fosse ela descontente
Fruste em nós a vocação
De sermos mais que somente

O que havia era esperar
Que viesse a morte um dia
Dar-nos por fim o descanso
Dar-nos talvez alegria

Só que não será preciso
Chegarmos a termos tais
Porque vamos ser os dois
Erguidos a muito mais

Além da morte voando
Viver em eterna luz
Todos os anjos cantando
Sem nenhum disfarce de asa

Lindos meninos eis a vossa rua
Lindos meninos eis a vossa casa.


Agostinho da Silva

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Homenagem a Agostinho da Silva

Acho graça às homenagens
Que me prestam,
Excelente sinal de ilusões
que a eles restam

sou tão humano quanto os outros,
com qualidades e defeitos
e mais as manhas que se escondem
em seus peitos;

se a hora mo facilita
já resplendo,
mas, se estreita é a passagem,
me defendo

audácia nunca me falta,
com ela ataco
mas também já tenho dado
parte de fraco;

só pura sorte me tem levado
ao melhor de mim,
nem sempre os meios de que me sirvo
valem o fim;

sinto que os êxitos são o que tinha
de acontecer,
comigo ou outro tudo seria
igual vencer;

mas sempre é isto o que sucede
com toda a gente,
de baços astros rolando vagos
luz aparente;

de nós nada mais deixamos
que vãs memórias,
só Deus é grande, só Deus é santo
e o demais histórias.


Agostinho da Silva

Ontem à noite, no CLP, simplesmente aconteceu Poesia!

Obrigado Ivo!

Invictus




Os filmes a que nos habituou Clint Eastwood!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Chéri





Chéri de Sidonie Colette

Um filme que nos permite entrar num ambiente "belle époque" retratado com delicada sensibilidade, onde a sensualidade deixa lugar ao amor transgressor.

Michelle Pfeiffer, bien enquadrée dans un décors féminin, élégant et sensuel, brille (encore) du début à la fin du film! Bravo!

Quelle élégance sous vos grands chapeaux, Madame!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A delicada majestade

Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas

porque não és um tu

ou porque chegas sempre em não chegares.

Subi um dia por uma escada silenciosa

e em torno era um pomar branco, tranquila maravilha

e eu senti, eu vi, adivinhei

a divindade amada, a soberana e delicada

majestade. Que suavidade de oriente,

que suave esplendor! Era o fulgor de um sono

límpido, entre olhos verdes, entre mãos verdes.

E num repouso de oiro adormecido era quase um rosto

Antiquíssimo e inicial. Contemplava

a quietude de um imenso nenúfar

e a fragância era quase visível como um mar entreaberto.

Era um rio detido ou uma tersa nuca ou um braço estendido

que descansa entre ribeiros primaveris

ou era antes a serena felicidade

e era uma boca da terra que não cantava que não dizia

o silêncio ardente que no peito de espuma cintilava.



António Ramos Rosa

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Bolero de Maurice Ravel II

Bolero de Maurice Ravel I

Richard Wagner

Corpo Habitado

Corpo num horizonte de água,
corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da língua.

Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,
corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor das espigas,
respirar
a doçura escuríssima das silvas.

Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.

Corpo para beber até ao fim -
meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação.


Eugénio de Andrade

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Cantiga de amigo

Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausência tudo liso de espanto
e nem Camões Virgílio Shelley Dante
o meu amigo está longe
e a distância é bastante.

Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mãe nem pai
Ah não Camões Virgílio Shelley Dante!

o meu amigo está longe
e a tristeza é bastante.

Nada a não ser este silêncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgílio Shelley Dante:
o meu amigo está longe
e a saudade é bastante!

Ary dos Santos

A criação literária de Cervantes

Miguel de Cervantes (1547 - 1616)

Romancista, dramaturgo e poeta espanhol, foi o criador de Dom Quixote, a figura mais famosa da literatura espanhola.

Revolucionou a literatura ao utilizar recursos como a ironia e o humor. Embora a reputação de Cervantes se apoie quase que totalmente nas aventuras do cavaleiro das ilusões, Dom Quixote e seu fiel escudeiro, sua produção literária foi considerável.

http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/autores2/index15.html

o Exílio em Cervantes




Miguel de Cervantes

o Exílio em Enrique Vila-Matas




Enrique Vila-Matas

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mozart

Nona Sinfonia

Nona Sinfonia

É por dentro de um homem que se ouve
o tom mais alto que tiver a vida
a glória de cantar que tudo move
a força de viver enraivecida.

Num palácio de sons erguem-se as traves
que seguram o tecto da alegria
pedras que são ao mesmo tempo as aves
mais livres que voaram na poesia.

Para o alto se voltam as volutas
hieráticas sagradas impolutas
dos sons que surgem rangem e se somem.

Mas de baixo é que irrompem absolutas
as humanas palavras resolutas.
Por deus não basta. É mais preciso o Homem.


Ary dos Santos, in 'O Sangue das Palavras'

Van Gogh

Van Gogh



Vincent Van Gogh

Van Gogh

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Une ballade...

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


Ricardo Reis