Primavera

Primavera
Primavera de Botticelli (imagem da Google)

ADÁGIO


Tão curta a vida e tão comprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.

Miguel Torga































domingo, 13 de dezembro de 2009

Eva

Quando Eva andava nua pelo paraíso,

disfarçava o tédio à sombra das árvores,

colhendo as flores, cheirando o seu perfume,

e pensando como seria bom ter um céu

para espreitar.

Um dia, uma dessas flores transformou-se

em fruto; e Eva levou-o à boca,

trincou-o, provou a sua polpa.

Por um estranho efeito

de causa e consequência, o sabor da maçã

obrigou Eva a cobrir a sua nudez

com folhas e flores, que passaram

a ser uma metáfora do corpo

que escondem.

Então, o pecado tornou-se uma simples

figura de retórica, e o sexo um exercício

de interpretação.


Nuno Júdice

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