Quando Eva andava nua pelo paraíso,
disfarçava o tédio à sombra das árvores,
colhendo as flores, cheirando o seu perfume,
e pensando como seria bom ter um céu
para espreitar.
Um dia, uma dessas flores transformou-se
em fruto; e Eva levou-o à boca,
trincou-o, provou a sua polpa.
Por um estranho efeito
de causa e consequência, o sabor da maçã
obrigou Eva a cobrir a sua nudez
com folhas e flores, que passaram
a ser uma metáfora do corpo
que escondem.
Então, o pecado tornou-se uma simples
figura de retórica, e o sexo um exercício
de interpretação.
Nuno Júdice
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