Primavera

Primavera
Primavera de Botticelli (imagem da Google)

ADÁGIO


Tão curta a vida e tão comprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.

Miguel Torga































domingo, 31 de janeiro de 2010

"Quem quer que haja construído um novo céu, só no seu próprio inferno encontrou energia para fazê-lo!"
Nietszche

O Exílio de Amos Oz

O Exílio de Amos Oz

O Exílio de Amos Oz

O Exílio de Amos Oz

O Exílio de Amos Oz




Michel Tournier

L'écrivain et l'"écrivant"

O Exílio de Jean-Marie Le Clézio

Estrela Errante

O Exílio de Primo Levi

O Exílio de Primo Levi

O Exílio de Frida Kahlo


Frida Kahlo



''Há algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.'', in Diário de Frida Kahlo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Mulher...!

Receita de Mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize
elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso
que súbito tenha-se a
impressão de ver uma
garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só
encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas
que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso,
é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que
umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas,
e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras:
uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.



Vinícius de Morais

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Se houvesse degraus na terra

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Herberto Helder

sábado, 23 de janeiro de 2010

A Origem




Ulisses

O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos creou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Fernando Pessoa,in Mensagem


http://www2.ilch.uminho.pt/sdef/ProgramaExilio.htm

Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

Nuno Júdice

Pastel de Belém




No dia 22 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


E como a tradição ainda é como era... fomos aos pastéis de Belém!

No dia 22 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


No dia 22 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


Torre do Tombo

No dia 22 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


Centro Cultural de Belém

No dia 22 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


Museu da Presidência

No dia 21 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


Parque das Nações

No dia 21 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


Câmara Municipal de Lisboa

No dia 21 de Janeiro, a Camilo esteve aqui!


Assembleia da República

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um mundo

É um sonho ou talvez só uma pausa

na penumbra. Esta massa obscura

que ela revolve nas águas são estrelas.

Entre aromas e cores, um barco de calcário

prossegue uma viagem imóvel num jardim.

Vejo a brancura entre os astros e os ramos.

Dir-se-ia que o ser respira e se deslumbra

e que tudo ascende sob um sopro silencioso.

Nenhum sentido mas os signos amam-se

e o brilho e o rumor formam um mundo.



António Ramos Rosa

domingo, 17 de janeiro de 2010

Exílios



Opinião:
O «Exílio e o Reino» é um conjunto de seis contos escritos por Albert Camus que, em contextos completamente distintos uns dos outros, abordam o exílio físico ou espiritual (ou ambos) que cada pessoa encontra para dar suporte ou complemento à sua própria existência, onde cada conto se centra na experiência individual de uma única pessoa. Cada um precisa do seu reino, que pode perseguir de uma forma obcecada e esse reino não passar nunca de uma obsessão com todos os riscos que tal implica, como no conto «O Renegado ou um Espírito Confuso», encontrá-lo e vivê-lo apenas por instantes através de uma espécie de chamamento pagão que reconforta e justifica toda uma vida de abnegação e dedicação, como em «A Mulher Adúltera», (e, de uma forma semelhante, em «Os Mudos»), ou encontrá-lo na sua própria existência quotidiana, após longas divagações que quase aniquilam o verdadeiro reino que já possuía e que ainda não tinha reconhecido, como em «Jonas (O Pintor)».

Em «O Hóspede» encontramos um exílio conscientemente assumido, que, mesmo numa situação em que pode pôr em perigo a sua própria vida, não há hesitações em cumprir na prática os ideais em que acredita. E, finalmente, em «A Pedra que Aumenta» (último conto), como pedra de toque em todos estes contos, a compreensão do exílio de todo um povo e das crenças associadas a esse exílio, por parte de alguém que vem de fora, e que, num acto de grande humanidade, entra no espírito desse exílio e vive-o plenamente, irmanado do ideal humano que, não obstante todas as diferenças que existem entre todos os povos, todos (e, particularmente, cada um de nós) precisam do seu exílio como algo essencial para a sua realização como ser humano, imprescindível como complemento ao quotidiano de cada um.

Uma escrita extremamente cuidada, no expoente literário do Nobel Camus, com enredos cativantes da primeira à última linha de cada conto, finais comoventes e significativos, ainda que distintos, do âmago espiritual que guia a vida de todos nós.

http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=1297

A delicada majestade

Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas

porque não és um tu

ou porque chegas sempre em não chegares.

Subi um dia por uma escada silenciosa

e em torno era um pomar branco, tranquila maravilha

e eu senti, eu vi, adivinhei

a divindade amada, a soberana e delicada

majestade. Que suavidade de oriente,

que suave esplendor! Era o fulgor de um sono

límpido, entre olhos verdes, entre mãos verdes.

E num repouso de oiro adormecido era quase um rosto

Antiquíssimo e inicial. Contemplava

a quietude de um imenso nenúfar

e a fragrância era quase visível como um mar entreaberto.

Era um rio detido ou uma tersa nuca ou um braço estendido

que descansa entre ribeiros primaveris

ou era antes a serena felicidade

e era uma boca da terra que não cantava que não dizia

o silêncio ardente que no peito de espuma cintilava.



António Ramos Rosa
ACORDES, QUETZAL EDITORES
1990

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O horizonte das palavras


Sem direcção, sem caminho

escrevo esta página que não tem alma dentro.

Se conseguir chegar à substância de um muro

acenderei a lâmpada de pedra na montanha.

E sem apoio penetro nos interstícios fugidios

ou enuncio as simples reiterações da terra,

as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.

Tentarei construir a consistência num adágio

de sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes.

E na substância entra a mão, o balbucio branco

de uma língua espessa, a madeira, as abelhas,

um organismo verde aberto sobre o mar,

as teclas do verão, as indústrias da água.

Eu sou agora o que a linguagem mostra

nas suas verdes estratégias, nas suas pontes

de música visual: o equilíbrio preenche os buracos

com arcos, colinas e com árvores.

Um alvor nasceu nas palavras e nos montes.

O impronunciável é o horizonte do que é dito.



António Ramos Rosa
ACORDES, QUETZAL EDITORES, 1990, 2ª EDIÇÃO, P. 81

Por vezes, eles são uns grandes e deliciosos tímidos...

Sem comunicação (de afecto) não há Homem...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Les Yeux D' Elsa

Tes yeux sont si profonds qu'en me penchant pour boire
J'ai vu tous les soleils y venir se mirer
S'y jeter à mourir tous les désespérés
Tes yeux sont si profonds que j'y perds la mémoire

À l'ombre des oiseaux c'est l'océan troublé
Puis le beau temps soudain se lève et tes yeux changent
L'été taille la nue au tablier des anges
Le ciel n'est jamais bleu comme il l'est sur les blés

Les vents chassent en vain les chagrins de l'azur
Tes yeux plus clairs que lui lorsqu'une larme y luit
Tes yeux rendent jaloux le ciel d'après la pluie
Le verre n'est jamais si bleu qu'à sa brisure

Mère des Sept douleurs ô lumière mouillée
Sept glaives ont percé le prisme des couleurs
Le jour est plus poignant qui point entre les pleurs
L'iris troué de noir plus bleu d'être endeuillé

Tes yeux dans le malheur ouvrent la double brèche
Par où se reproduit le miracle des Rois
Lorsque le coeur battant ils virent tous les trois
Le manteau de Marie accroché dans la crèche

Une bouche suffit au mois de Mai des mots
Pour toutes les chansons et pour tous les hélas
Trop peu d'un firmament pour des millions d'astres
Il leur fallait tes yeux et leurs secrets gémeaux

L'enfant accaparé par les belles images
Écarquille les siens moins démesurément
Quand tu fais les grands yeux je ne sais si tu mens
On dirait que l'averse ouvre des fleurs sauvages

Cachent-ils des éclairs dans cette lavande où
Des insectes défont leurs amours violentes
Je suis pris au filet des étoiles filantes
Comme un marin qui meurt en mer en plein mois d'août

J'ai retiré ce radium de la pechblende
Et j'ai brûlé mes doigts à ce feu défendu
Ô paradis cent fois retrouvé reperdu
Tes yeux sont mon Pérou ma Golconde mes Indes

Il advint qu'un beau soir l'univers se brisa
Sur des récifs que les naufrageurs enflammèrent
Moi je voyais briller au-dessus de la mer
Les yeux d'Elsa les yeux d'Elsa les yeux d'Elsa



Louis Aragon


Abel Salazar

Abel Salazar


"O MÉDICO QUE SÓ SABE DE MEDICINA NEM DE MEDICINA SABE"
Abel Salazar





segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Amor Eterno

E agora que as mãos da incrédula
rapariga te empurram para a saída,
onde irá chover, de acordo com
a cor do céu, não resistas. Na rua,
onde os ventos se cruzam na esquina,
os que sopram, do norte, de colinas
manchadas pelo inverno, e os que
nascem do rio, trazendo a impressão
húmida do litoral, acende um cigarro,
para que o calor do lume te reconforte
as mãos, avança pelo passeio, enquanto
o frio te deixar, e ouve o canto da água
por baixo de terra: correntes
no limite entre o gelo
e o fogo, uma evaporação de humores,
como se as almas lutassem em busca de
saída, e, no fumo de uma memória
de mesa antiga, tu e essa que amaste,
trocando as frases matinais do re-
encontro. Vidros embaciados pelas
lágrimas da ruptura, perguntas sem
resposta, a casa de luzes
apagadas, como se estivesse vazia - e como
se não soubesses que os destinos se decidem
por cima de nós, onde em cada instante
um deus cansado nos desfaz as inúteis
promessas de eternidade.


Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"

domingo, 10 de janeiro de 2010

Anne

Anne qui se mélange au drap pale et délaisse
Des cheveux endormis sur ses yeux mal ouverts
Mire ses bras lointains tournés avec mollesse
Sur la peau sans couleur du ventre découvert.

Elle vide, elle enfle d'ombre sa gorge lente,
Et comme un souvenir pressant ses propres chairs,
Une bouche brisée et pleine d'eau brûlante
Roule le goût immense et le reflet des mers.

Enfin désemparée et libre d'être fraîche,
La dormeuse déserte aux touffes de couleur
Flotte sur son lit blême, et d'une lèvre sèche,
Tête dans la ténebre un souffle amer de fleur.

Et sur le linge où l'aube insensible se plisse,
Tombe, d'un bras de glace effleuré de carmin,
Toute une main défaite et perdant le délice
A travers ses doigts nus dénoués de l'humain.

Au hasard! A jamais, dans le sommeil sans hommes
Pur des tristes éclairs de leurs embrassements,
Elle laisse rouler les grappes et les pommes
Puissantes, qui pendaient aux treilles d'ossements,

Qui riaient, dans leur ambre appelant les vendanges,
Et dont le nombre d'or de riches mouvements
Invoquait la vigueur et les gestes étranges
Que pour tuer l'amour inventent les amants...



Paul Valery

Viva La vida

Avec le temps

Ma solitude

Ma Liberté

Mozart

Mozart

Maria João Pires


Maria João Pires

Frédéric Chopin

sábado, 9 de janeiro de 2010

Balançar

Correspondances

La nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

Il est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
- Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.


Les Fleurs du Mal, Charles Baudelaire


Richard Buckminster Fuller


Para uma geração norte-americana cuja consciência despertou durante os anos 60 e 70, Richard Buckminster Fuller - ou Bucky, como todos o conheciam - foi o flautista de Hamelim do humanismo científico. Falecido em 1 de Julho de 1983, aos 88 anos, o génio amigo do planeta teve uma carreira fulgurante, de tal forma que a admiração por Fuller exprime-se geralmente em termos superlativos. O compositor John Cage, por exemplo, é de opinião que seremos recordados como aqueles que viveram na época de Buckminster Fuller. Marshall McLuhan não se fica atrás, considerando-o o Leonardo da Vinci dos tempos modernos.
Esta não é das mais originais observações do célebre teórico dos mass media, pois a comparação de Fuller e da Vinci é tão evidente que fazê-la se tornou um lugar comum. Isso, contudo, não invalida a sua verdade. Senão vejamos: arquitecto, engenheiro, cartógrafo, cosmólogo, matemático, cientista social, teórico educacional, perito em computadores, inventor, filósofo, visionário, poeta - como o génio da Renascença, Fuller foi uma dúzia de pessoas habitando o mesmo corpo.
(http://www.wook.pt/authors/detail/id/10171)

A ARQUITECTURA PODE SER FANTASIA E REALIDADE



Ao contrário da casa portuguesa cantada por Amália Rodrigues, a de Raul Lino é uma casa soberba. Quando se tem oportunidade de contactar com o seu legado, saltam à vista a qualidade do desenho, recheado de motivos portugueses e a integração com o meio circundante. Com Raul Lino é possível conceber uma “Arquitectura Portuguesa”.

Raul Lino entendia que a estética era um elemento essencial, mesmo nas casas mais modestas e de construção mais económica.

O resultado é equilibrado entre a estética e a funcionalidade, a criatividade, a atenção dada aos pormenores e a utilidade, os materiais tradicionais e as comodidades actuais. E é sempre uma arquitectura brilhante.

António Quadros chamou-lhe o último arquitecto português. Seria bom que não, e que o génio fizesse escola, porque se o país pretender qualificar melhor o seu espaço, precisa de acabar com a “arquitectura do mamarracho". Vejamos por exemplo a construção tradicional preservada e estimulada por essa Europa desenvolvida e vejamos os debates que hoje envolvem temas como a qualificação de quem assina um projecto (em http://www.arquitectos.pt/index.htm).




quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Lembra-te

Lembra-te

que todos os momentos

que nos coroaram

todas as estradas

radiosas que abrimos

irão achando sem fim

seu ansioso lugar

seu botão de florir

o horizonte

e que dessa procura

extenuante e precisa

não teremos sinal

senão o de saber

que irá por onde formos

um para o outro

vividos.

Mário Cesariny

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Crepúsculo

É quando um espelho, no quarto,

se enfastia;

Quando a noite se destaca

da cortina;

Quando a carne tem o travo

da saliva,

e a saliva sabe a carne

dissolvida;

Quando a força de vontade

ressuscita;

Quando o pé sobre o sapato

se equilibra...

E quando às sete da tarde

morre o dia

- que dentro de nossas almas

se ilumina,

com luz lívida, a palavra

despedida.

David Mourão-Ferreira
Albert Camus me rappelle mon insouciance adolescente. Que de lointains souvenirs soudain m'assaillissent en ce jour...

"L'absurde naît de la confrontation de l'appel humain avec le silence déraisonnable du monde."


07/11/1913-04/01/1960

domingo, 3 de janeiro de 2010

William Turner





... s'il est une chose qu'on puisse désirer toujours et obtenir quelquefois, c'est la tendresse humaine.
Albert Camus, La Peste

sábado, 2 de janeiro de 2010

Noite de Chuva

Chuva... Que gotas grossas!... Vem ouvir:
Uma... duas... mais outra que desceu...
É Viviana, é Melusina a rir,
São rosas brancas dum rosal do céu...

Os lilases deixaram-se dormir...
Nem um frêmito... a terra emudeceu...
Amor! Vem ver estrelas a cair:
Uma... duas... mais outra que desceu...

Fala baixo, juntinho ao meu ouvido,
Que essa fala de amor seja um gemido,
Um murmúrio, um soluço, um ai desfeito...

Ah, deixa à noite o seu encanto triste!
E a mim... o teu amor que mal existe,
Chuva a cair na noite do meu peito!



Florbela Espanca
Livro: Reliquiae

Beethoven





Ludwig Van Beethoven

Aguarela



João Sousa

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Porto Sentido



Rui Veloso

Praias

na praia lá do guincho as velas

de windsurf saltam sobre as ondas

e o meu olhar, equestre,

pula nos peitos das banhistas, enquanto

um cachorro tenta agarrar a cauda.

nos feriados tudo é insuportável

menos o sol e o mar

apesar das famílias.

e sustendo as gaivotas na mais alta

imaginação, porque hoje não vi nenhuma,

o vento traz de tudo

e antónio nobre e lorca às pandas roupas

que modelam os corpos em míticas figuras

com o seu drapejado esvoaçante,

entre dunas e lixo e vendedores de gelados.

restaria o campo, mas

«no campo não há bicas nem paperbacks»

diz uma amiga minha e tem razão.

que seria de nós, bucólicos, sem esses indicadores da alma? dou

lume a uma italiana e enquanto

ela agradece ocorre-me que despi-la já não é

cosa mentale; faz-me lembrar o algarve, mas no verão

o algarve é a continuação

da política por outros meios. antes

a nortada, os surfistas,

na crista da onda, a areia que entra no poema,

e o regresso mais cedo, quando já não se

aguenta.

Vasco Graça Moura

Porto em Aguarela




Em recordação de um presente simpático e inesperado, que me trouxe o último dia do ano de 2009.