Primavera

Primavera
Primavera de Botticelli (imagem da Google)

ADÁGIO


Tão curta a vida e tão comprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.

Miguel Torga































sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Praias

na praia lá do guincho as velas

de windsurf saltam sobre as ondas

e o meu olhar, equestre,

pula nos peitos das banhistas, enquanto

um cachorro tenta agarrar a cauda.

nos feriados tudo é insuportável

menos o sol e o mar

apesar das famílias.

e sustendo as gaivotas na mais alta

imaginação, porque hoje não vi nenhuma,

o vento traz de tudo

e antónio nobre e lorca às pandas roupas

que modelam os corpos em míticas figuras

com o seu drapejado esvoaçante,

entre dunas e lixo e vendedores de gelados.

restaria o campo, mas

«no campo não há bicas nem paperbacks»

diz uma amiga minha e tem razão.

que seria de nós, bucólicos, sem esses indicadores da alma? dou

lume a uma italiana e enquanto

ela agradece ocorre-me que despi-la já não é

cosa mentale; faz-me lembrar o algarve, mas no verão

o algarve é a continuação

da política por outros meios. antes

a nortada, os surfistas,

na crista da onda, a areia que entra no poema,

e o regresso mais cedo, quando já não se

aguenta.

Vasco Graça Moura

Sem comentários: