Primavera
ADÁGIO
Tão curta a vida e tão comprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.
Miguel Torga
domingo, 17 de janeiro de 2010
Exílios
Opinião:
O «Exílio e o Reino» é um conjunto de seis contos escritos por Albert Camus que, em contextos completamente distintos uns dos outros, abordam o exílio físico ou espiritual (ou ambos) que cada pessoa encontra para dar suporte ou complemento à sua própria existência, onde cada conto se centra na experiência individual de uma única pessoa. Cada um precisa do seu reino, que pode perseguir de uma forma obcecada e esse reino não passar nunca de uma obsessão com todos os riscos que tal implica, como no conto «O Renegado ou um Espírito Confuso», encontrá-lo e vivê-lo apenas por instantes através de uma espécie de chamamento pagão que reconforta e justifica toda uma vida de abnegação e dedicação, como em «A Mulher Adúltera», (e, de uma forma semelhante, em «Os Mudos»), ou encontrá-lo na sua própria existência quotidiana, após longas divagações que quase aniquilam o verdadeiro reino que já possuía e que ainda não tinha reconhecido, como em «Jonas (O Pintor)».
Em «O Hóspede» encontramos um exílio conscientemente assumido, que, mesmo numa situação em que pode pôr em perigo a sua própria vida, não há hesitações em cumprir na prática os ideais em que acredita. E, finalmente, em «A Pedra que Aumenta» (último conto), como pedra de toque em todos estes contos, a compreensão do exílio de todo um povo e das crenças associadas a esse exílio, por parte de alguém que vem de fora, e que, num acto de grande humanidade, entra no espírito desse exílio e vive-o plenamente, irmanado do ideal humano que, não obstante todas as diferenças que existem entre todos os povos, todos (e, particularmente, cada um de nós) precisam do seu exílio como algo essencial para a sua realização como ser humano, imprescindível como complemento ao quotidiano de cada um.
Uma escrita extremamente cuidada, no expoente literário do Nobel Camus, com enredos cativantes da primeira à última linha de cada conto, finais comoventes e significativos, ainda que distintos, do âmago espiritual que guia a vida de todos nós.
http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=1297
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